A HISTÓRIA EM PESSOA
A HISTÓRIA EM PESSOA
Fabrício Carpinejar
Rebeca Andrade não fez história, ela é a história em pessoa. A encarnação do espírito olímpico.
Seu ouro no salto sobre a mesa tornou irrelevante a injustiça que sentiu todo brasileiro com o passo para fora do tablado, quando ela obteve a prata no individual geral da ginástica.
Naquela oportunidade, o primeiro lugar não veio por um detalhe. Agora o detalhe estava a favor dela. Nem alcançou os seus melhores saltos, mas foi o suficiente para garantir o primeiro lugar.
Se antes a prata teve sabor de ouro, o ouro teve, na sequência, sabor de imortalidade. Ambos os brilhos se encaixam em seu pescoço, colares com o peso da resiliência.
A conquista chegou com a nota média de 15.083 pontos. Completaram o pódio com a brasileira, a americana Mykayla Skinner, com a prata, e a sul-coreana Seojeong Yeo, com o bronze.
Sua imperfeição perfeita na manhã desse domingo (1/8) já a transformou em nossa ginasta mais premiada da história dos Jogos.
Nem em uma novela poderia ter um final tão feliz. Nem se a sua mãe, dona Rosa, ditasse o capítulo redentor, palavra por palavra, lá da casa de Guarulhos, doméstica que sustentou sozinha uma casa com sete crianças.
Rebeca é movida pela gratidão de estar competindo. Não há no seu semblante tensão ou medo, sentimentos característicos das finais. Ela se revela vencedora antes mesmo de vencer. Porque tem em mente o quanto sofreu para firmar os seus pés no chão.
Seu giro livre no ar, seus parafusos firmando o nosso coração nos eixos dos aparelhos, não demonstram em nenhum momento que ela atravessou três cirurgias de ligamento no joelho.
Será que a alegria cicatriza o corpo? Será que o amor-próprio regenera as pernas?
A menina que dava estrelinha sem mão aos 3 anos, duas décadas depois, é uma estrela indiscutível do esporte mundial, festejada por lendas como a romena Nadia Comăneci, o único dez perfeito em uma competição olímpica.
O que sei, o que vejo, o que testemunhei em Rebeca é que Deus voa certo em linhas tortas.
E ainda não acabou. A rainha do baile pode mais. Volta ao funk na próxima segunda, a partir das 5h45min, para a disputa do solo.